terça-feira, 23 de setembro de 2014

Países que controlam tabagismo e hipertensão têm menos casos de Alzheimer

Na forma inicial, o Alzheimer causa alterações na memória, na personalidade e em habilidades espaciais e visuais. A progressão pode ser rápida ou lenta, mas, em todos os casos, tem como estágio final uma resistência à execução de tarefas diárias, perda da razão e da habilidade de cuidar de si próprio, incontinência urinária e fecal e deficiência motora progressiva. Essas características altamente debilitantes são o que assustam cerca de 68% das pessoas entrevistadas em todo o globo pela Alzheimer's Disease International (ADI). A equipe de pesquisadores multidisciplinar divulgou hoje o Relatório Global do Alzheimer 2014 com essa e outras conclusões importantes. Em alguns países, nos últimos 20 anos, por exemplo, há uma redução da incidência de demência. O motivo, segundo o documento, é o melhor controle do diabetes, da hipertensão e a diminuição do tabagismo.

A equipe liderada por Martin Prince, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências da King’s College of London, examinou criticamente evidências para a existência de fatores de risco modificáveis para a demência. “Nós nos concentramos em quatro domínios fundamentais: desenvolvimentos psicológico e psicossocial, estilo de vida e fatores de risco cardiovascular”, enumera. Eles garantem, com base em dados científicos, que, mesmo com o envelhecimento da população, a incidência do risco do problema pode ser modificada com a redução do uso do tabaco e um melhor controle e detecção da hipertensão e do diabetes. A última doença, de acordo com as conclusões do grupo, pode aumentar o risco de males neurodegenerativos em 50%.

Independentemente da idade e da carga genética, a demência causada pelo Alzheimer pode ser prevenida. A receita não foge ao tripé que sustenta uma vida saudável e longeva: não fumar, comer bem e se exercitar. Os pesquisadores resumiram as recomendações em uma máxima: “O que é bom para o coração é bom para o cérebro”. Isso porque a redução dos casos da doença percebida por eles tem como pano de fundo uma melhora na saúde cardiovascular em países de alta renda. “Existem evidências de vários estudos de que a incidência de demência pode estar caindo em países de alta renda vinculadas a melhorias na educação e na saúde cardiovascular. Precisamos fazer tudo o que pudermos para acentuar essas tendências”, afirma Martin.

Ao mesmo tempo, é previsto um maior aumento na prevalência do Alzheimer nas próximas décadas em nações de baixa e média renda, em que os fatores de risco identificados no relatório representam um problema crescente. As evidências mais fortes para possíveis associações causais com demência são baixa escolaridade na infância e adolescência, hipertensão na meia-idade e tabagismo e diabetes durante toda a vida. De acordo com o estudo, aqueles que tiveram melhores oportunidades educacionais têm um menor risco de demência quando envelhecem. A educação não teria impacto sobre as mudanças cerebrais que levam ao problema, mas reduziria o impacto no funcionamento intelectual.

Multifatorial
Coordenador do Núcleo de Excelência e Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, Ivan Okamoto explica que o Alzheimer é multifatorial, pois tem fatores genéticos e ambientais. “Se pensarmos somente no genético, a doença não tem essa queda de incidência tão rápida. Vinte anos é pouco tempo para uma mudança de perda genética na população”, avalia. Por esse motivo, segundo ele, a queda nos casos pode ser atribuída ao melhor controle de fatores ambientais. “Isso comprova aquela coluna de medidas que todos os médicos falam: controle da pressão, do colesterol, não tabagismo, alimentação saudável e atividade física.”

Cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25% das com mais de 85 anos podem apresentar algum sintoma do Alzheimer, e são inúmeros os casos que evoluem para a demência. Feito o diagnóstico, o tempo médio de sobrevida varia de oito a 10 anos. A prevenção por meio de hábitos saudáveis, ainda que reconhecida pela ciência, não é de conhecimento da população.

Segundo o relatório global, pouco mais de um sexto (17%) dos entrevistados reconhece que a interação social com amigos e familiares pode ter impacto sobre o risco de desenvolver o Alzheimer. Apenas 25% identificam o excesso de peso como um possível fator e um a cada cinco (23%) vê a atividade física como algo que pode afetar o risco de ocorrência da doença.

A expectativa do grupo de pesquisadores é de que, como parte da campanha internacional de sensibilização em torno da doença — que chega ao ápice neste domingo, Dia Mundial do Alzheimer — novas medidas de conscientização e prevenção sejam adotadas. Eles propõem a integração de mensagens de promoção da saúde do cérebro em campanhas de saúde pública em geral, como as de combate ao tabaco e a doenças não transmissíveis. Essas ações devem ser direcionadas também para os adultos mais velhos, que raramente são alvo específico dos programas de prevenção.

“Não há evidências fortes o suficientes, neste momento, para afirmar que as mudanças de estilo de vida vai prevenir a demência de forma individual. No entanto, combinar os esforços para combater a carga global e a ameaça das doenças não transmissíveis é importante”, afirma o relatório. “Se todos nós podemos entrar na velhice com o cérebro mais saudável e desenvolvido, estamos propensos a viver vidas mais longas, felizes e independentes, com uma chance muito menor de desenvolver demência”, finaliza.

Fonte:Saúde Plena

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