terça-feira, 16 de setembro de 2014

Tabagismo vicia mais que drogas ilícitas

Relatório preparado pela organização de controle do tabagismo da Campanha Crianças Livres do Tabaco (CTFK) divulgado, terça-feira, revela que cigarro está viciando mais que cocaína ou heroína. Uma das causas apresentadas pelo estudo são os teores de nicotina dos cigarros que aumentaram, 14,5%, entre 1999 e 2011. 

De acordo com um dos autores do estudo, o professor da Universidade da Califórnia David Burns, apesar de a nicotina e heroína apresentarem mecanismos semelhantes para o desenvolvimento da dependência, o número de experimentadores de cigarro, os que se tornam dependentes, é maior do que os que entram em contato com a heroína pela primeira vez.

Essa prevalência, afirma o documento, é resultado de estratégia adotada pelas companhias de alta engenharia para aumentar a atratividade e facilitar o consumo e a dependência. A pesquisa constata que ao longo dos últimos 50 anos os produtos passaram a apresentar um número maior de teor de nicotina. Além da inclusão na fórmula do cigarro, de amônia e açúcares que aumentam seu efeito e tornam a fumaça mais fácil de ser inalada. 

As mudanças não se limitam apenas à fórmula do cigarro. O formato mudou e passaram a trazer filtros com pequenos orifícios, muitas vezes imperceptíveis, que levam o fumante a aumentar o volume e a velocidade de aspiração. 

Especialista

De acordo com pneumologista e cirurgião-torácico Roberto Ramos Caiado, a nicotina, substância encontrada naturalmente na planta do tabaco, é uma droga com maior causa de dependência chegando ser mais que a cocaína. "A nicotina é uma substância com reconhecida capacidade em causar dependência à proporção de usuários de tabaco, mesmo que sejam eles casuais, e tende a evoluir", descreve.

Pontua ainda que a proporção de usuários de tabaco é maior que dos usuários de cocaína, heroína ou álcool. Sendo esta uma droga lícita causadora de dependência e prejudicial à saúde. O especialista chama a atenção para os perigos do cigarro. "O tabagismo é o mais importante fator de risco, isolado, de doenças graves e fatais, o fumante fica exposto há mais de quatro mil substâncias das quais muitas são cancerígenas", alerta.

Pesquisadores afirmam que a amônia acrescentada ao tabaco aumenta a velocidade com que a nicotina chega ao cérebro e a sua absorção, o que torna a sensação de prazer mais rápida e intensa. A amônia também torna a fumaça do cigarro mais suave, o que facilita a sua inalação pelos pulmões. O pneumologista Roberto Caiado alerta que de todos adolescentes que experimentam o cigarro, cerca de 70% se tornam dependentes.

Além da maior capacidade de desenvolver dependência, as mudanças ampliaram o risco de desenvolverem mais doenças como o câncer de pulmão. Isso porque as misturas do tabaco e os aditivos tornaram a fumaça do cigarro mais fácil de ser inalada, aumentando os níveis de nicotina no sangue e cérebro. 

Fato que leva os fumantes a ficarem mais propensos a desenvolver desde doenças como bronquite crônica, enfisema nos pulmões, câncer de pulmão, cânceres de boca, laringe, ou estômago. Até mesmo a redução da capacidade de aprendizado, memorização e impotência sexual. Caiado destaca a importância das pessoas não iniciar o uso dessa substância, sendo esta altamente viciante. "O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica que é gerada pela dependência na nicotina", informa. O médico ainda explica que o tratamento para deixar de fumar existe, mas é preciso que a pessoa esteja determinada a parar e passar pelo tratamento. 

Fumo sim

O professor de Inglês Luiz Eduardo Kruger, 22 anos, fuma desde os 15, mas conta à reportagem do Diário da Manhã que somente a partir dos 18 anos de idade passou a fumar com mais frequência. Ele, hoje, fuma cerca de 15 cigarros, por dia, e revela as influências que o levaram ao tabagismo. "Comecei a fumar logo nas saídas com alguns de meus amigos que fumavam e meu irmão também", conta.

Luiz Eduardo assegura nunca ter tido problemas de saúde por causa de cigarro, no entanto, reconhece os prejuízos que o mesmo pode trazer à saúde. "Certamente o cigarro é altamente viciante, não sei se tanto quanto a outras drogas, mas o cigarro causa dependências química e física. Quando eu comecei a fumar, meu pai – que nunca fumou – me disse que todo fumante um dia pensa em parar. Hoje concordo com ele. Nunca pensei ou tentei parar de fumar, mas tenho certeza que esse dia chegará", reconhece.

As companhias usam os aditivos como sabor para que os cigarros aumentem o número de vendas, e ainda atrair jovens e evitar que pessoas abandonem o tabagismo. Parece que a estratégia tem funcionado, na balada, Kruger chega fumar mais de uma carteira numa noite e descreve a experiência do vício: "O cigarro acalma e me deixa relaxado. Sempre que fumo tenho a sensação de tranquilidade", conclui. 

Fonte: Diário da manhã

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